Morar junto é uma delícia. Fato. O problema é que tal afirmação não
se sustenta por muito tempo sem alguns entretantos e todavias, ou sem
muita generosidade e disposição. Hoje lembrei de alguns momentos e
decidi compartilhar 9 meios hábeis para que homens e mulheres aprofundem a relação e evitem o cansaço. Alguns deles eu já fiz, outros apenas imaginei.
1. Façam amor com a rotina
Em vez de fugir ou evitar (desculpe-me, mas ela é inevitável), façam
amizade com a rotina e eventualmente levem-na para cama. Acordar todo
dia junto, ver o outro se levantar como sempre faz, escovar os dentes
andando pela casa, abrir os mesmos armários da cozinha, tomar o mesmo
café, comer sempre a mesma coisa, dar o mesmo tipo de beijo, o mesmo
abraço, trocar as mesmas palavras, fazer o mesmo percurso, fechar a
porta de um jeito igual ontem, anteontem e semana passada… Nem sempre a
saída é mudar a rotina, tomar café na cama, preparar surpresas, fazer
sexo matinal, dar outros beijos e abraços etc. Há limite para o novo.
Podemos ter prazer com o habitual, com o velho, o convencional. É ele
nosso verdadeiro parceiro. É ele que todo dia está lá, enquanto que a
aventura nos abandona logo no dia seguinte.
2. Explorem um local inusitado
A rotina tediosa tem a capacidade de incorporar até mesmo as
novidades. Todo casal tem um leque de possíveis ações: sua liberdade
configura sua própria prisão. Quando desejam inovar, eles vão jantar em
um restaurante indiano (mês passado foi um mexicano). Ou o homem sempre a
convida para shows – diferentes, claro, mas sempre shows. Não há
problema algum nisso, mas às vezes é interessante ir além desse
processo. Para tanto, visitem juntos um local que vocês nunca sequer
imaginariam adentrar. Para casais conservadores, pode ser um casa de
swing. Vocês não precisam seguir o comportamento das pessoas, apenas
sentir o prazer em estar ali, observando e namorando em meio àquilo
tudo. Lembrem-se que muitas paixões começam quando duas pessoas, no meio
de uma festa, por exemplo, sentem-se completas alienígenas e assim se
aproximam.
3. “Oh happy day!”
Diante da impermanência da vida, como traçar uma linha permanente que
observaria e sorriria para as oscilações do casal? Mais ainda, como
acessar esse casal transcendental que morre de rir com os vários casais
que passam pela casa no passar do tempo? Não me lembro quando tudo
começou, só sei que diariamente (antes de sair para trabalhar ou à
noite) nós tirávamos uma foto como sendo o casal “Oh happy day”. Depois
de um tempo, havia mais de 50 imagens nossas: abraçados, se olhando, se
beijando, sorrindo, entediados, com sono, olheiras, sujos, arrumados,
bêbados, bonitos, limpos, horríveis. Éramos todos eles, mas não éramos
nenhum deles. Antes de tudo, éramos o casal que batia as fotos, não
apenas os que tinham sido capturados. (Uma variação é segurar um papel
A4 com a data escrita, de modo a facilitar a montagem de um calendário
do casal).
4. Semana do desafio
Idéia bem simples: 7 dias, 7 tarefas que ele propõe a ela, 7 práticas
que ela oferece a ele, 7 recompensas para ele, 7 recompensas para ela.
Ao fim de cada dia, trocam-se as recompensas se as tarefas foram
realizadas. Para que ela peça a ele, deixo algumas sugestões: “limpe a
casa inteira”, “anote em um papel todas as vezes que você sentir
orgulho, raiva ou preguiça durante o dia”, “medite por 30 minutos”,
“envie um SMS a cada hora para mim”, “visite de surpresa a minha mãe”.
Para que ele peça a ela: “limpe a casa inteira” (hahhaha), “passe o dia
contraindo os músculos pélvicos e treinando pompoarismo”, “anote em um
papel todas as vezes que você sentir raiva, carência, ansiedade ou
medo”, “tome banho frio” (tem de ficar dentro do banheiro para se
certificar – e rir, claro)… As recompensas podem ser sexuais ou não.
Pimenta a gosto do casal.
5. Mês da gastronomia mundial
Preparem um roteiro gastronômico pela cidade (a propósito, aproveitem o Restaurant Week
que vai até dia 31/8). O ideal é que seja mais de um restaurante por
semana e de cozinhas diversas: árabe, espanhola, indiana, egípcia,
mexicana, tailandesa, coreana, francesa, italiana, alemã… O importante é
marcar isso de algum modo, não apenas sair convidando um ao outro como
se fosse um jantar casual. Decidam um mês e, de preferência, repitam no
ano seguinte.
6. Façam um curso juntos
Muitos casais se esquecem de que um dos maiores prazeres da vida a
dois é construir mundos compartilhados. Quem não atenta a isso corre o
risco de acabar vivendo em um universo completamente distante do mundo
habitado pelo parceiro. Para construir mundos, nada melhor do que
aprender juntos. Matriculem-se naquele curso de sommelier que vocês
sempre adiam, no tango que só imaginam fazer no fim da vida ou na
meditação sobre a qual têm conversado.
7. Comprem um batom roxo
Ah, o batom roxo! Se quiser associar boas lembranças a esse simples
objeto, faça o seguinte. O homem pode comprar um batom bem forte (roxo
ou lilás, em homenagem a este blog que vos fala) e deixar no quarto com
um bilhete: “Use-me sempre que estiver explodindo de tesão”. Caso a
mulher compre, o bilhete pode ser: “Tá vendo isso aqui? Guarde bem essa
cor pois ela estará na minha boca sempre que eu estiver precisando de
algo que só você tem”. Aí, no meio de uma noite qualquer, ela lendo, ele
no computador, ela se levanta, passa o batom exageradamente e somente
aparece na sala… Ah, o batom roxo!
8. Elogiem-se
Parece uma sugestão boba, mas não é. Depois de anos, os elogios
diminuem como se tudo já tivesse subentendido, como se as qualidades do
outro já tivessem sido exaustivamente afirmadas. Não deixe de pronunciar
mesmo os elogios mais óbvios: “Você está linda hoje”. Se for
necessário, se a preguiça virar cegueira ou se o outro não contribuir
com beleza suficiente, por favor minta ou então encontre algum detalhe
luminoso no meio da monstruosidade alheia: “Eu simplesmente amo a sua
nuca!”. Mulheres, saibam que poucos elogios já deixam um homem forte e
seguro, do jeitinho que você tanto gosta. Quando tudo vai mal, o pior
que você pode fazer é criticá-lo – isso o enfraquece. Homens, eu não
preciso dizer que as mulheres ficam ainda mais bonitas quando elogiadas,
né?
9. Casem
Antes de morar junto, por favor, casem. A mudança dos móveis
consolida um casamento de qualquer modo, apenas admitam e superem
qualquer aversão a essa instituição falida. Ela ainda movimenta o
imaginário coletivo: mesmo para os casais mais moderninhos, a afirmação
“somos casados” é bem diferente do que “moramos juntos”. Além disso,
morar junto sem festa de casamento e lua-de-mel é como ir a praia,
enfrentar trânsito para chegar, ser picado por mosquitos, pagar caro
pelo guarda-sol e não entrar no mar. É cair na pior parte do casamento
sem aproveitar a melhor. Se não quiserem enfrentar papéis e não
simpatizarem com religião alguma, apenas celebrem: chamem os mais
próximos, dancem, se declarem publicamente ao som da música mais linda e
comecem uma vida a dois só depois de chegar do aeroporto.
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